Eu tenho onde cair morto, o problema é que eu não tenho onde cair vivo.



A frase um tanto quanto sem proposito que dá título a este post fez parte de uma importante reflexão que tive no passado.

O ano era 2013, eu não estava nem um pouco feliz com as minhas perspectivas futuras, perspectivas de vida mesmo. Eu tinha um emprego regular, nem bom e nem ruim, tinha passivos superiores a minha capacidade de geração de renda e percebia que eu estava no mesmo caminho que levou os idosos da minha família a dias difíceis e uma situação de dependência financeira das pessoas próximas.

Aquilo não poderia ser uma vida boa, trabalhar durante anos a fio, se aposentar com um benefício que mal cobre plano de saúde e remédios, inerentes as idades mais avançadas. Com essa inquietação fui atrás de informação e encontrei uma trilha de conhecimento sobre educação financeira que realmente mudou a minha perspectiva de futuro.

Após ter contato com os primeiros conceitos de educação financeira, ter uma noção que eu deveria ter ativos e ter um controle em relação aos passivos que eu contraia para não sufocar minha capacidade de poupança, testei alguns desses conceitos pedindo opiniões de pessoas próximas.

Não é difícil de imaginar qual foi a reação das pessoas quando eu comentava minha intenção de poupar e ter um orçamento mais controlado, a grande maioria das pessoas fazia questão de me desmotivar, utilizavam diversos argumentos para me demover da ideia de acumular patrimônio.

O principal argumento era relacionado a morte precoce, algo que valorizava de maneira demasiada a possibilidade de falecer ainda jovem e deixar de aproveitar cada dia da vida como se fosse o último.

Escutei afirmações que seguiam essa linha de pensamento de várias pessoas, além da tradicional demonização do dinheiro, realmente acumular patrimônio é um tabu e malvisto por muitas pessoas.

Durante essas incursões dentro do meu círculo de relacionamento, eis que encontro uma luz no fim, bem no fim do túnel.

Um tio avô, famoso por ter tido uma vida boêmia, ele era músico, viveu sempre em busca do prazer supremo em todos os momentos durante a juventude, me trouxe a sabedoria de quem realmente olhou para o passado, com uma boa dose de análise crítica, e enxergou que poderia ter tomado algumas atitudes que tornariam o seu bem estar mais prolongado.

A situação deste meu tio avô não era das melhores, como já disse anteriormente, ele vivia de favores de outros familiares, não vestia roupas novas senão dessem para ele, não saia de casa por conta própria nunca, sempre dependia da ajuda dos outros. Ao conversar com ele, os primeiros minutos foram tomados por esse tipo de reclamação.

Em certo ponto, eu testei a afirmação, que eu havia escutado de muitas pessoas, de que eu não deveria ser ‘mão de vaca’ e ficar pensando em acumular patrimônio, que eu deveria aproveitar a vida, e para minha completa surpresa escutei a seguinte frase.

“Eu preferiria ter corrido o risco de morrer jovem me privando de alguns ‘privilégios’, ao invés de tomar o risco de não morrer e me tornar um fantasma ainda em vida...”

 Após alguns segundos eternos de silêncio veio a sentença mais direta.

“Hoje eu tenho onde cair morto, o problema é que eu não tenho onde cair vivo”

O peso da frase dita pelo meu tio avô ecoou na minha cabeça durante semanas, primeiro pela tristeza que ela transmitia e segundo pela constatação prática de alguém que seguiu o fluxo natural imposto pela sociedade e tinha certeza que não andou pelo melhor caminho.

É uma frase imensa, em certo ponto da vida o problema não é mais a morte e sim a vida, com os avanços da medicina você já pensou que pode levar anos se preocupando em estar vivo e não mais em morrer? Acredito que a reflexão é muito pertinente, e a constatação que os extremos são maléficos é muito evidente.

Não adianta ser extremamente frugal e não ter equilíbrio, abdicando completamente de aproveitar a vida durante o pico da nossa saúde e disposição, ou seja, aproveitar a vida durante a juventude, porém também é uma insanidade, tomar o risco de ter uma vida longa e passar vários anos da velhice sem dignidade e sem liberdade.

Acredite, somente as glórias do passado e um saudosismo efusivo não são capazes de manter o bem de estar de quem não tem onde cair vivo!
Eu tenho onde cair morto, o problema é que eu não tenho onde cair vivo. Eu tenho onde cair morto, o problema é que eu não tenho onde cair vivo. Reviewed by Surfista Calhorda on 11:50 PM Rating: 5

33 comentários:

  1. Olá, Surfista.

    Eu prefiro poupar e investir para colher os frutos no futuro a "viver a vida" imposta pela sociedade. A chance de morrer na velhice é muito alta e cada dia que passa está mais fácil viver até aos 80 anos. É triste ver um idoso dependendo de grana das outras pessoas.

    Abraços!

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    1. Eu concordo Cowboy, é um caso de avaliação de riscos e como você disse a probabilidade de viver mais tempo não é tão pequena, neste caso, melhor manter o equilíbrio, viver bem o presente e planejar a grande possibilidade de um longo futuro.

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  2. Esse é um dos problemas da mentalidade dos brasileiros, acumular riqueza sem demonstrar para os outros é visto como avareza.
    O estilo de vida ostentação é a meta para muitos.
    Sacrifício para melhorar de vida é visto como algo irracional, imundo, algo que beira a doença, pois "onde já se viu juntar dinheiro e não gastar".
    Enfim, infelizmente esse é o padrão da nossa sociedade, devendo ressaltar que muitas vezes a geração que se sacrificou para guardar alguns trocados acabam por ver a geração seguinte esbanjar tudo e voltar ao estado inicial.
    Gostaria que esse tipo de pensamento diminuísse e que os brasileiros se entusiasmassem mais com a possibilidade de poupar, é difícil, mas ainda tenho esperanças.

    Abraço.

    Tiozão do churrasco.

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    1. Uma taxa de poupança elevada realmente ajuda a melhorar toda a sociedade, gosto de dar o meu exemplo, estou conseguindo proporcionar para os meus filhos uma qualidade de vida que eu não tive, um estudo de melhor qualidade... Com toda certeza eles vão ter mais chances e mais possibilidades de viverem com dignidade.

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  3. a virtude está no meio (aristoteles)

    abs!

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    1. Concordo, buscar o equilíbrio deve ser uma constante, precisamos revisar pesos e medidas com frequência.

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  4. Já vi muitos idosos que reclamaram porque não guardaram nada, mas nunca vi um idoso rico reclamando porque investiu quando era jovem e perdeu alguns momentos "lúdicos".

    Sigo nessa linha de raciocínio. Abraços!

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    1. Marcelo eu não consigo enxergar uma privação tão ostensiva para cuidar do futuro, na minha opinião basta conseguir ter foco naquilo que realmente é importante e deixar de lado a necessidade de ser mais e mais, e ter posses para impressionar desconhecidos ou pessoas que não dão a mínima para gente.

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    2. Concordo contigo. Não me privei de muita coisa para poder formar uma reserva de investimentos, mas também não fiquei fazendo viagens internacionais para fazer book de fotos no Instagram.

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  5. Meu amigo, que post pesado. Vou até parar e ler de novo

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    1. Engenheiro eu acho de uma genialidade essa frase, 'Meu problema é que eu não tenho onde cair vivo', sei que ela é carregada de sofrimento, porém mesmo com esse peso não deixa de ser genial.

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  6. Pior que nossa sociedade é desse jeito. Precisamos viver com equilíbrio, poupar e viver tb, porém muitos brasileiros não buscam isso. Na repartição que trabalho vejo um monte de idoso atolado em dívidas e sempre resmungando.

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    1. Pois é Gari e manter o equilíbrio nos permite aproveitar muito bem a juventude, pois precisamos guardar pequenas quantias por um longo período para ter um qualquer na velhice, nunca será uma privação tão agressiva, a não ser que seja o desejo da pessoa viver na frugalidade extrema.

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  7. Sem contar que ter uma uma reserva nos permite viver mais tranquilo, coisas que para uns são o fim do como perder um emprego ou bater um carro se tornam bem mais leves quando temos uma reserva.
    Eu perdi uma boa fonte de renda esse ano tive que parar os aportes e mesmo assim apenas reinvestindo os dividendos meu patrimônio vem crescendo.
    Eu gosto muito dos conceitos do livro " O homem mais rico da Babilônia" onde dentro do orçamento tem espaço pra tudo...o que muda é tempo e prioridade.
    abraço

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    1. Tranquilidade e muito importante, ter condição de se planejar, ser independente é algo que não tem preço.
      E o esforço para atingir essa condição está na resiliência e na paciência, não está na necessidade de não aproveitar a juventude, basta guardar pequenas quantias durante um longo período e ter paciência e resiliência, se a pessoa começa a guarde com 30 anos, e consegue manter o ritmo até os 65 anos, são 35 anos de poupança para juntar um qualquer para a velhice... A falta de informação leva muitas pessoas a um final de vida difícil.

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  8. Surfista, qual a sua opinião sobre aquisição de imóvel próprio?

    Estou em uma caminhada frutífera rumo a IF, mas não tenho imóvel...nunca gostaria de ter que vender meus ativos geradores de renda para comprar uma casa, mas com a chegada do segundo filho, isso vem permeando a minha mente...penso em interromper principalmente os aportes em renda variável e focar por alguns anos em aportar em renda fixa para comprar o imóvel...o que me doi o coração é que os ativos geradores de renda ficariam por vários anos sem aporte...

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    1. Steve Rogers se você olhar só o lado financeiro, alugar um imóvel é mais vantajoso, pois não é difícil conseguir alugar um imóvel com um aluguel menor que 0,4% do imóvel. Porém eu não gosto dessa análise puramente financeira, no caso de um 'lar' acredito que outros fatores devem ser avaliados, questões emocionais, o problema de ter que se mudar algumas vezes com dois filhos... Enfim existem vários critérios que devem ser avaliados, e os filhos, escola perto de casa, tem algumas comodidades que fazem a diferença no dia a dia. Desculpe senão consegui responder com precisão sua pergunta.

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    2. Sim, com certeza...alugar do ponto de vista financeiro é mais vantajoso.

      Hoje, na minha condição, eu vejo o imóvel mais como um reserva de valor, ou seja, seria aquele lugar para ter "onde cair vivo" se houve um cataclismo no mercado financeiro ou se circunstâncias políticas, como a ocorrida na Venezuela, destruir valor dos ativos financeiros custodiados no País...

      Você computa o imóvel que reside no seu fechamento mensal?

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    3. Steve não computo o imóvel que eu vivo no meu fechamento mensal, gosto da definição que o imóvel onde vc vive é um passivo, portanto deixo ele fora do meu fechamento mensal.
      Porém computo o imóvel que hoje eu adquiri para fazer negócio, eu computo o valor da compra no meu patrimônio e quando efetivo a venda e o recebimento dos valores eu computo o valor do lucro no patrimônio.

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  9. Quem vive como se não houvesse o amanhã está simplesmente jogando contra as probabilidades, a maioria absoluta de nós irá sim chegar à velhice e como vc bem disse se não fizermos nada hoje estaremos em uma posição bastante desconfortável no futuro. Juro que não sei de onde saiu essa ideia absurda de que só pq existe a possibilidade de morrermos amanhã devemos aproveitar o máximo o hoje. Se eu morrer amanhã dinheiro com certeza não será problema, mas não posso dizer o mesmo caso eu não morra.

    Excelente reflexão!

    Sr.IF
    www.srif365.com

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    1. Sr.IF um tempo atrás eu recebi um áudio onde uma pessoa falava que ela já tinha feito as contas, e que o dinheiro dela dava até ela morrer, o problema é que ela tinha que morrer até a meia noite... O grande ponto que eu vou reforçar é que se preparar para um vida mais longeva não quer dizer que devemos abdicar do presente, é muito plausível poupar para futuro e viver muito bem o presente.

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  10. Bom texto para reflexão

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  11. Ótima história. Realmente é isso que acontece. Seguimos firmes no nosso plano de longo prazo, focado nos momentos que a vida nos proporciona no curto prazo.

    Abraço

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    1. Sequoia, inclusive esse tipo de reflexão me ajudou a equilibrar um pouco o meu impeto para atingir a independência financeira o quanto antes, esse tipo de reflexão me conduziu para a visão de que a IF pode chegar um pouco mais tarde e que isso não é um problema.

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  12. Vivemos em uma sociedade consumista, onde falar sobre dinheiro e investimentos até hoje é um tabu muito grande!
    Sempre trabalhei muito e comecei a ganhar dinheiro muito novo. Como filho de Deus, também gostava de luxos, aquela mentalidade imediatista típica: "Trabelhei duro, posso me dar ao luxo de ter isso, de sair quantas vezes eu quiser e pagar para todos os meus amigos, viajar, etc"

    Com uns 26 que fui apreder sobre investimentos e me interessar por este mundo fascinante!

    Eu discordo de algumas coisas que são faladas por aí:
    - Economizar ao máximo e viver uma vida muito abaixo do que pode
    - Investir
    - Quem sabe um dia ter reserva o suficiente para aposentar ...

    Difícil pedir pra alguém que ganhe 3-5k mês pra viver abaixo, porque muito provávelmente esta pessoa terá uma família pra sustentar. (uma das situações)

    Eu acredito em estudo, trabalho duro, multiplas fontes de receita e investimento como potencializador de riqueza!
    Pra mim, a criação de negócios é essencial no processo de crescimento, principalmente financeiro.

    Me identifiquei muito quando você mencionou à respeito das pessoas sempre desmotivarem e etc
    Sempre tive um problema de validação externa, hoje mais controlado, mas sofria muito quando conversava com alguém sobre algo que eu estava planejando e vinham com palavras desmotivacionais.

    Enfim, excelente post e reflexão! :D

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    1. Pois é Anom, concordo com você que somente uma parcela pequena da população pode se dar ao luxo de guardar 300 reais por mês, realmente a grande maioria dos brasileiros fecha no vermelho somente com as despesas básicas para sustentar uma casa e uma família, essa pessoas realmente estão um passo atrás, porém as que tem o privilégio de começar desde cedo construir o famoso 'pé de meia' não devem perder a oportunidade.
      Garanto a maioria destas pessoas com condições de fazer um 'pé de meia', quando atingirem a IF vão dedicar o seu tempo para ajudar os outros e tentar fazer nosso Brasil melhor.

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  13. No Brasil é difícil, nossa cultura de festa e bajulações de famosos que gostam de ostentar incumbe um sentimento que a felicidade somente pode ser atingida com aquisições de bens materiais, ser frugal é malvisto. Vendo o aspecto atual da reforma na previdência tenho certeza que milhões de brasileiros acabarão como seu tio avô, a questão é tentarmos passar bons conhecimentos como você fazer com seu blog, eu mesmo era um preso na corrida dos ratos e seu blog foi um divisor de águas, não podemos salvar o mundo, mas podemos guiar algumas pessoas ao caminho certo, abraços.

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    1. Douglas fico muito feliz de ter ajudado, mesmo que timidamente. Realmente nossa cultura valoriza muito mais as aparências, ter um carrão, morar numa região nobre, fazer viagens para postar nas redes sociais e parecer mais do que ser são a tônica da nossa sociedade.
      Nem sei como as pessoas se comportam em outros países, será que é tudo igual?

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  14. É bem assim mesmo Surfista. As pessoas querem uma vida melhor mas não desejam pagar o preço para isso. A maioria é imediatista e não pensa no futuro.

    Vejo bastante isso em meu circulo de amizades e até mesmo entre familiares, e me preocupo com o futuro que essas pessoas terão lá na frente, tendo que trabalhar sem saber se terão saúde, condições para o trabalho e dependendo de outros para sobreviver.

    Eu sempre busco um equilíbrio mas mantenho os pés no chão e a prioridade é sempre poupar e investir para me aposentar tranquilo.

    As pessoas não querem pagar o preço e nem querem te ver bem. Cansei de falar por várias e várias vezes tentando ensinar um pouco do que sei, mas a maioria não está nem aí. Hoje sigo minha jornada em busca de minha independência, que muitas vezes é solitária, mas muito gratificante. Todo o esforço vale a pena.

    Você tomou a melhor decisão de sua vida em não seguir a manada.

    Abs!

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    1. Holder para muitos o preço nem é tão alto assim, mas eu fico triste, pois mesmo aportes pequenos são impensáveis para grande maioria dos brasileiros que não tem condições básicas para sobreviver, mas eu acredito firmemente que a melhora da nossa sociedade passa pelo fortalecimento da taxa de poupança da nossa população, as famílias precisam melhorar a cada geração para que em décadas do Brasil seja um lugar melhor.

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  15. este um artigo escrito com CATEGORIA, meus parabéns, sinceramente !!

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“Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário.”
George Orwell

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