FIRE, existe um número para parar?


No post de fechamento anual o Investidor Suburbano me perguntou: ' - Em qual valor você pretende parar?'
Link: Post Fechamento Anual 2019

Quando eu terminei de ler a pergunta a resposta veio muito fácil, ela foi simples. Eu respondi nunca, conforme pode ser lido abaixo:



Entendo que existe um limite que a saúde pode impor e também um limite da própria condição biológica de estar vivo, então em vez de responder nunca, eu deveria responder enquanto estiver vivo e a saúde me permitir realizar algum trabalho.

Certamente se a pergunta fosse feita um ano atrás, eu teria um número exato para parar.

Esse parar teria um significado de realmente não ter compromisso com trabalho, não aportar mais e viver da renda gerada pelo meu patrimônio.

Eu experimentei uma semi-parada de uns 2 meses, no ano passado, e foi essa experiência que mudou um pouco minha percepção ao FIRE, suspeito que não sou um seguidor ortodoxo das regras do movimento e não conheça bem sua definições, inclusive por estar questionando a parte do RE (Retirement Early), mas acho que o conceito que a comunidade FIRE prega é o que está mais próximo do meus passos para acumular patrimônio.

Descobri que não existe parar, existe ter liberdade, proporcionando um bom nível de conforto para a família, mas parar não existe, alias existe com a morte.

Sobre a liberdade, sabemos que a grande maioria das pessoas fazem o que tem que fazer para garantir seu sustento, ter um emprego com uma boa remuneração já é uma grande vitória, e no final do dia isso é bom!

Isso mesmo, no final do dia isso é bom, pois a infelicidade é o principal combustível para gerar a felicidade, o desejo de se movimentar, o desejo de ir para praia no final de semana, pois eu tive uma semana estressante, as férias de final de ano, pois eu tive um ano desafiador...

Eu fiquei durante dois meses, livre para ir para praia surfar, livre para ler, livre para fazer cursos de programação kkk é verdade isso é lazer para mim, livre para viajar, enfim fiquei livre para fazer o que eu quisesse e com tempo de sobra, sabe que no final eu não gostei dessa liberdade toda.

Rapidamente eu percebi que precisava me desafiar em alguma coisa, sem precisar, pois meu colchão de segurança está bem parrudo, eu fui fazer bicos de programador, sem precisar abri uma empresa para prestar consultoria, eu fui procurar o problema, porém de maneira muito mais livre e aqui acho que comecei a encontrar um caminho.

Hoje eu tenho uma perspectiva muito mais clara que não existe uma felicidade plena e constante, quem vive assim deve ser meio tontolão, a falta de algo ou a iminência de perder esse algo é o primeiro passo para produzir alguma coisa que nos traz felicidade.

Algumas evidências empíricas:

  • Realizar a divisão de um quarto na casa da minha mãe com meus irmãos era um problema e uma fonte de irritação e infelicidade, isso me fez ter coragem de sair de casa, trabalhar para me sustentar.
  • Me ver envolto em dívidas e preocupações me fez aprender a guardar dinheiro, a controlar meu orçamento e começar a construir um patrimônio.
  • Trabalhar durante a semana me dá mais vontade de ir para praia no final de semana, quando eu tinha todo tempo, durante minha pequena parada, fiquei os últimos 15 dias sem ir surfar.
  • Saber que na semana seguinte vou ter que trabalhar, pegar um baita transito em São Paulo, me faz dar mais valor para os momentos com meus filhos e as horas de surf.


Precisamos ter a privação de algo ou uma visão clara que em breve vamos perder a condição que está nos permitindo estar felizes para que aquele momento, aquele algo realmente tenha valor e seja capaz de trazer alguma felicidade, em caso contrário tudo se torna entediante e não nos sentimos estimulados a continuar aquela atividade.

Esses dias o Soul Surfer comentou sobre o filme Divertida Mente, já assisti algumas vezes, uma das atividades do filme é a felicidade tentando reduzir ao máximo a tristeza e no final a felicidade descobre que os momentos felizes dependem da tristeza.

Sei que os mais letrados devem ter referência de pensadores, filósofos que já abordaram o tema de maneira muito mais erudita e completa, mas como eu sou apenas um pobre rapaz latino americano ter um entendimento, mesmo que raso, daquilo que é necessário para eu ser feliz já é um grande avanço.

Para acalmar os chatões de plantão, essa é a visão que eu tenho agora, não é meu objetivo aqui compartilhar um modelo que irá funcionar para todo mundo, mas acredito que a reflexão sobre a escassez seja um ponto inerente para quase todo mundo, deve ter alguns tontolões que conseguem viver no ostracismo total, ou até mesmo eu possa ser o tontolão de não ter aproveitado de maneira plena meus 2 meses com abundância total de tempo disponível e não conseguir viver em uma felicidade constante.

Até aqui em O'ahu não é possível ser feliz o tempo inteiro, vocês acreditam?
FIRE, existe um número para parar? FIRE, existe um número para parar? Reviewed by Surfista Calhorda on 6:00 AM Rating: 5

14 comentários:

  1. Concordo com você, parar totalmente sem cogitação, mas continuar com o gerenciamento da carteira de investimentos será um baita trabalho, mesmo que esteja no automático.

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    1. A gente não consegue parar Samurai, lógico que existe esforço para administrar a carteira de investimentos, porém dependendo da estratégia o esforço nem é tão grande assim, então é necessário ter alguma outra atividade para ocupar o tempo literalmente.

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  2. Meu caro,

    Quando falamos em número mágico, a maioria deve pensar em parar de trabalhar mas isso não quer dizer em parar de tocar seus projetos. São coisas distintas.
    Muita gente depois que para de trabalhar continua sendo ativo e contribuindo com a sociedade mas sem se preocupar em ganhar dinheiro. Existe inúmeras atividades que dá pra encaixar sem se sentir à toa na vida.
    Trabalho voluntário , gerir o próprio patrimônio, cuidar da saúde (atividade física, meditação), mais tempo com a família, ajudar amigos e parentes, se aperfeiçoar em hobbys (gastronomia, fotografia, jardinagem, tocar um instrumento etc...), investir em novas línguas, viajar a cada 3 meses, .... Todas essas coisas demandam tempo e dedicação e podem ser encaradas como novos desafios.

    Mas concordo se o ser humano ficar a toa olhando pro teto, vai chegar uma hora que o tédio chega....é da natureza humana se sentir útil/produtivo.

    O importante é cada um achar aquilo que faz seu coração vibrar!!

    Abs e bons investimentos

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    1. Kspov eu descobri que todas essas atividades que você comentou, menos viajar a cada 3 meses, eu consigo fazer mesmo tendo uma jornada de trabalho de 6 a 8 horas por dia. Que nosso tempo é muito abundando parece que ficamos improdutivos até com as atividades recreativas.
      Concordo em gênero, número e grau sobre encontrar aquilo que faz nossos corações vibrarem, porém o mundo é complexo, sempre estamos renovando aquilo que faz nossos corações vibrarem, o que causa esse efeito hoje pode mudar amanhã.

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  3. Para de trabalhar no sentido de sair do emprego atual pode ser uma baita negócio pra muita gente, tem empregos que tem prazo de validade, só que muitos ficam anos a fio nisso e isso suga toda a energia vital dessas pessoas.
    Ficar sem fazer nada pro resto da vida é outra coisa totalmente diferente e essa sim pode ser potencialmente ruim.

    "mas como eu sou apenas um pobre rapaz latino americano" você poderia ter completado essa frase assim: "mas como eu sou apenas um pobre rapaz latino americano com dinheiro no banco".

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    1. Anom é isso que eu quiz dizer com liberdade, buscar atividades remuneradas que demandem mais da nossa capacidade criativa. A vida é uma evolução constante, é bem provável que daqui a alguns anos eu já tenha me enveredado por outros tipos de atividades, mas essa é a graça ter a condição de arriscar, esse sim é o privilégio que a maioria não tem, pois ficam amarrados em trabalhos ruins para garantir o sustento da família.

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  4. Temos que buscar é a liberdade! Poder escolher quais projetos desenvolver, não tendo como foco principal o dinheiro. Hoje em dia vivemos uma espécie de neoescravismo, vamos que assim dizer. Trabalhar para pagar as contas e conseguir comida. A escravidão era algo parecido! Vejam também que naquela época, o escravo que juntasse um determinado dinheiro poderia comprar a carta de alforria, que garantia a liberdade. Parece que temos algo similar hoje. Sim! A Independência Financeira através da renda passiva (nem tanto passiva assim né).
    Quanto a dar valor as coisas, precisamos ter uma escassez realmente. E os desafios e as conquistas nos traz prazer e satisfação.

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    1. Caminhando e Poupando realmente a liberdade deve ser valorizada sempre e as comparações com outros tempos são bem pertinentes, hoje temos uma estrutura que realmente nos aprisiona, mas também devemos reconhecer que existem mais possibilidades de sair dessa prisão que existiam antigamente.

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    1. Emprego formal só vou reavaliar em ago ou setembro deste ano. Sobre os freelances tem aparecido algumas coisas interessantes e também abri um empresa, para prestar consultoria, a atuação como autônomo tem gerado alguma renda, não está no mesmo patamar de quando eu era funcionário, mas existe a possibilidade de que essa empreitada seja lucrativa. Vou continuar neste tocada até o início do segundo semestre de 2020.

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  6. Uma coisa que percebi nesse meu ócio de fim de ano é que as pessoas não suportam ver os outros parados me arrumaram um monte de coisa pra fazer desde cuidar de cachorro , buscar não sei quem não sei aonde, queria ficar morgadão assistindo series e jogando e não tive paz pra realizar meu planejamento.Se eu atingir o ponto que minha renda passiva superar meus gastos recorrentes com uma sobrinha eu paro imediatamente de trabalhar com comercio e busco outra coisa pra usar meu tempo, seja esporte ou hobby ,restauração de veículos, ou desenvolver um projeto próprio e de outros... Acho que nesse ponto o problema é o excesso de opção não a falta e talvez uma culpa por ter dado certo sei lá pode trazer um isolamento social.

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    1. Soldado do milhão esse é o espirito, eu estava conversando com um amigo que é FIRE ontem, ele adora viajar e depois que conseguiu conquista sua independência financeira abriu um agência de viagens focada somente em viagens de surf, tem um público pequeno e está sempre indo junto nas trips para fidelizar os clientes, o cara tá trabalhando bastante, mas tá fazendo o que gosta e nesse ponto que eu digo que não existe parar, existe ter liberdade, e quando encontramos o que gostamos de fazer realmente aí não é um sacrifício tão grande ir para labuta.

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  7. meu avô, ex-diretor de uma concessionária FORD na década de 60-70 se aposentou , com um patrimônio imobiliário expressivo, no início da década de 80, e viveu em uma praia estudando música e viajando pelo mundo com seu motor-home até cerca de 2008 (+- 28 anos curtindo a vida plenamente), sem compromisso nenhum e se envolvendo apenas com hobbys de lazer, estou apenas citando um exemplo contrário, para não dizeres que "é impossível parar", "ninguem consegue" etc,

    apesar disso eu acredito que vc não queira parar, sinceramente, mas também acredito que a maioria apesar de não admitir, é oque mais gostariam !!

    também acredito que para "PARAR" de trabalhar exige uma mente muito consolidada em termos de saber oque queres de sua aposentadoria, oque me refiro é que parar de trabalhar pra definhar em um sofá olhando TV aberta ou ficar sem nada pra fazer é o motivo da maioria falar que "não quer parar" mas é porque não sabem oque fazer de lazer quando parar de trabalhar...

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    1. Excelente exemplo anom, é como eu falei é a minha percepção, eu gosto de trabalhar, gosto de ir surfar no final de semana, gosto da tensão quando entra um swell no meio da semana e eu tenho que trabalhar até tarde para antecipar o trabalho e conseguir aproveitar a praia, gosto de brincar com meus filhos depois do trabalho... Enfim hoje eu sou assim, quem sabe no futuro eu evolua para entender que outras atividades podem ocupar a minha mente e movimentar o meu corpo.
      Muito obrigado pelo relato.

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“Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário.”
George Orwell

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